Quinta, 25 Abril 2024
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    A nova Casa do Ceará para mais 50 anos
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A Odisséia de um povo Andante

José Colombo de Souza Filho (*)

Segundo o historiador Gustavo Barroso, o Ceará entrou oficialmente na historia do Brasil quando Portugal se encontrava incorporado ao Império Espanhol.

 

Até certo ponto esse domínio Espanhol foi benéfico para a nossa expansão territorial.

 

Durante os sessenta anos de duração desse domínio não veio para nosso pais nenhuma autoridade espanhola e como fosse o mesmo rei ungia as duas coroas da península.

 

A audácia das entradas e Bandeiras, a sombra desse pretexto riscou do mapa o meridiano de Tordesilhas que nos fazia avançar no descobrimento da chamada “largura do sertão”.

 

Mais uma vez o historiador e Diretor do Museu Histórico Nacional, Gustavo Barroso relata, para o setentrião se desenvolvia ensolarada e branca a arenosa costa, de pontos já mais ou menos reconhecidos, as salinas de Mossoró, a foz do rio das onças, o Jaguaribe, a enseada do Mucuripe, o Buraco das Tartarugas ou Jericoacoará e o Porto do Pote, o camocim dos Indígenas. – A seguir a serra da Ibiapaba com suas abruptas ribanceiras e o Punaré aonde nunca pusera os pés um português. – Numa vasta curva desenvolvida de noroeste a sudeste o planalto da Serra Grande, Ibiapaba, o dos Cariris, o do Pereira e o do Apodi. Formavam como as ribanceiras de antiqüíssimo golfo do qual se retiraram as águas nas primitivas idades geológicas.

 

O solo rico, ora pobre aqui umbroso, ali com rala e espinhenta vegetação, verde e florido de janeiro a junho, nos anos de inverno.

 

Até o século XVIII todo o Estado do Ceará estava conquistado, surgiam as grandes fazendas de criação de gado, a agricultura, a produção de algodão, de gêneros alimentícios afora a atividades, extrativas de produção de óleos vegetais, a cera de carnauba e drogas medicinais.

 

Na miscigenação do índio, negro e branco, houve um rápido crescimento das populações que viviam em torno das fazendas, das casas grandes, do engenho de produção de Açúcar e derivados e as casas de farinhas.

 

No litoral que explorava a pesca desde dos primeiros Tempo de Colonia, principalmente nos currais de peixes para exportação foram perdendo sua importância – O Boi tornou secundária a pesca do camuripim notadamente nos currais dos mangues de Camocim, Acaraú e Chaval.

 

Nesses portos fluviais acrescentaríamos as salinas que também em Acarati passaram a ser fundamentais para exportação para Europa afora o crescimento das oficinas no manejo de carne de Sol, do charque e das industrias de curtição de couros. Exemplos seguidos por outras povoações no litoral cearense.

 

Surgia ai, a civilização do couro que era utilizado na fabricação de produtos como jibão, selas, alpergatas, portas, mesas, redes, deposito de mantimentos, botas, perneiras e afins.

 

O vaqueiro se paramentou e o pescador também usando sempre o couro e pelica tingida com tintura de cascas de cajueiros. Foi a perfeita integração ao meio ambiente no manejo de grandes boiadas.

 

Na jangada os pescadores conseguiram herdar dos açorianos o engenho de usar a madeira piuba e timbaúba, a vela de algodão para adentrar nos mares bravios com o pessoal que de geração a geração iam pescar muito além das praias de beira mar.

 

O Ceará se tornava uma região de produção acentuada. As cidades se formavam, a Igreja tinha sua atuação praticamente em todos os municípios, trilhas e caminhos aos poucos se tornavam estradas carroçáveis levando o comercio para as feiras que se formavam e ganhavam a devida importância. Crato, Barbalha, Missão Velha, ICO, Jaguaribe, Limoeiro do Norte, Aquiraz, Baturite, Pacoti, Sobral, Taúa, Crateus e Itapipoca. Este um dos maiores municípios que abrangiam as serras, o grande sertão e as praias. Em fins do século XVIII surgia a RVC para dinamizar o transporte de cargas e passageiros.

 

O Sertanejo Cearense condiciona o futuro

 

Dada a incerteza centenária quanto ao clima que poderia frustrar um ano de fartura o homem nordestino, principalmente o cearense das regiões dos Inhamus, da Serras do Cariri, das Uburetamas, das serras e dos vales povoados sempre afirmava em voz corrente.

 

- “Se a chuva não atrapalhar meus planos, o que que há ou seu vigário eu vou casar no fim do ano. Muito antes de se tornar um mote que Luiz Gonzaga consagrou, era via de regra um ressalva para adiar os planos dos seus sertanejos.

 

Bem alimentados e resultados das fusões das três raças

 

Cearense autêntico, cabeça chata, tinha sua prodigiosa facilidade de aprender e desenvolver ofícios e artes.

 

Eram grandes nos ofícios de trabalhar a madeira, o couro, o Barro. A lida com o gado, com as construções de açudes, e barragens de terra batida e também nas construções de Igrejas, templos, herdaram dos Portugueses a construção de fortes e fortins para marcar de forma definitiva a presença da Coroa lusitana nas terras do mundo novo.

 

São exemplos catados na histórica Nordestina e principalmente cearense as figuras de Delmiro Gouveia, Antonio Conselheiro, Padre Cícero, Padre Ibiapina, Padre Teodoro e outros exemplos presente nas dezenas e dezenas de paróquias espalhadas em torno de nosso torrão Natal.

 

No Ceará antigamente açude só arrombava nas grandes invernadas, depois de chuvas torrenciais. Arrombar assim, sem que nem mais nem menos, não é próprio dos açudes feitos pelos caboclos cearenses. Havia no sertão cearense, açudes feitos pelos nossos fazendeiros com mais de um século agüentando o banzeiro e muito bem.

 

No Estado Cearense, além dos engenheiros do Dnocs, competentes e valorosos, haviam mestres caboclos, criados na região como o João Mauricio ou mesmo o Ambrósio Cunha da Barra do Figueiredo. Qualquer um destas ou outro calejado dentre as centenas dos que existiam no Ceará; reconstruiriam os açudes fariam os remendos de terra batida, construíram um reforço na revença e cuidariam do sangradouro e montariam a porta d’água. Tudo dentro da sabedoria adquirida no trato das coisas testadas e aprendidas pelas experiências passadas de geração a geração.

 

O Sertão – O Sertanejo – e o crescimento econômico da Região do Nordeste Brasileiro.

 

Nos 200 anos iniciais de nossa nacionalidade Recife era o pólo de desenvolvimento com sua economia açucareira, a criação de gado no vale do São Francisco a fixação de grandes fazendas dos 2 lados desde o baixo, o médio e o alto São Francisco.

 

Salvador mesmo deixando de ser Capital do vice-reinado do Império Português tinha sua condição econômica concentrada no recôncavo Baiano.

 

As grandes famílias se expandindo na pecuária atravessando todo Estado e consagrando a posse de grandes extensões de terra se espalhando pelo Estado de Pernambuco, Sul do Piauí e no litoral envolvendo as terras da Paraíba, Rio Grande do Norte e atravessando a chapada do Apodi as terras do Ceará.

 

Era enfim consagração do espaço geográfico afirmando o domínio português e local da nova raça luso-descendentes (união de brancos,negros e índios) incorporados na luta, pela soberania e criando o sentimento de nacionalidade brasileira.

 

A Xícara era de louça mas o pires era de metal

 

A saga dos 3 sertanejos de Limoeiro do Norte rumo ao Rio de Janeiro

 

Como os dois anos anteriores do ano de 1953, a seca era braba no sertão Nordestino. O Ceará enfrentava já o terceiro ano de seca.

 

A calamidade era não so a falta de chuvas mas sobretudo o desaparecimento de atividade comercial, a imigração dos jovens à procura de empregos no Sul, a falta crescente dos alimentos básicos para alimentação das populações a cada dia mais aflitas e famintas. As terras de cultura estorricadas, o gado definhando e se esquartejando, caindo para morrer sem nenhuma assistência. Os burregos, as miuças, as cacimbas nos poucos cerrados existentes nas vargens,já exauridas de seus poucos riachos e córregos.

 

A CAN – Comissão de Abastecimento do Nordeste criada de forma emergencial pelo presidente Getulio, sofria com falta de recursos que eram regrados pelo então Ministro da Fazenda Horacio Lafer,paulista e que, ignorava a sofreguidão das hordas famintas aclamarem pela distribuição de rações mínimas.

 

Os governos estaduais alem de não disporem dos necessários recursos, não tinham peso político para em bloco exigirem do governo federal um verdadeiro plano de atendimento as populações desajustadas que desde os tempos imemoriais sofriam secas cíclicas e atemorizantes que paralisavam todo processo ativo de uma economia agro pastoril.

 

No velho sertão “Quem é rico anda em burrico quem é pobre anda a pé”

 

Na minha terra,dizia um velho cego cantador, cansado de esperar uma passagem de vapor para o Norte ou Sul do Brasil.

 

Quando a chuva não vê, alegria desaparece.

 

Torna-se grave e seco o ar antes gentil e gracioso das Marias Chicas.

 

O pequeno circo arriba e a onda de flagelados cresce.

 

A lona cai e o palhaço nem chorar sabe mais.

 

A juriti voa, voa para mais longe para não ser mais uma vitima da inclemência.

 

Entrementes enquanto a seca graçava desesperando os necessitados três ciclistas partiram da cidade de Limoeiro do Norte no dia 07 de setembro para fazer um apelo ao presidente da republica para que continuasse a enviar gêneros alimentícios e não deixasse faltar socorro a gente sofrida do interior nordestino. Os ciclistas cearenses Francisco Germano Freire,Antonio de Sousa Ferreira e Damião Lopes Cerqueira durante 36 dias pedalaram em estradas e caminhos de barro de fortaleza ao Rio de Janeiro e conseguiram entregar no Palácio do catete uma subscrição contendo 4000 assinaturas de agricultores. A mensagem foi entregue ao presidente Getulio Vargas e todos os jornais da época noticiaram a entrega de tal documento. Os três vaqueiros conseguiram tal qual a mensagem a Garcia fazer com que o presidente da republica como de fato atendeu e pela primeira vez ninguém morreu em conseqüência das secas do triênio 51-53.

 

A Chesf e a cidade de Paulo Afonso

 

A paralisação das obras de construção do açude de Orós, ordenada pelo presidente mineiro Arthur Bernardes frustrou uma grande massa de trabalhadores cearenses que tinham sido recrutados pelas empresas Norton Griffiths e Dwight Robinson. Essas firmas estrangeiras tinham sido vencedoras para construção de outras obras de vulto no nordeste brasileiro, pelo presidente Epitácio Pessoa.

 

Passados anos, já no governo do presidente Getúlio Vargas com a criação Chesf para usina hidrelétrica de Paulo Afonso, houve uma total redenção para uma região árida, seca e até então inabitável. Em tempo recorde a companhia hidrelétrica do São Francisco, construiu uma verdadeira cidade para alojar os operários, de forma condigna. A cidade criada passou a contar com escola, restaurantes, aeroportos e clubes. Água encanada e luz elétrica em todas as casas. Tudo o que os ingleses tinham idealizado para construção de Orós. O resultado se fez surgir de forma surpreendente, as obras foram concluídas em tempo recorde. Os operários se revelaram de grande produtividade e o planejamento comprido, permitindo que a empresa Chefs fosse colocando sucessivas turbinas, na barragem da represa do São Francisco. E o sertão virou mar...

 

1953 já estavam sendo planejadas pelos governos de Minas e São Paulo, as obras das futuras usinas de Urubupunga, Jupiá, Ilha Solteira, Furnas e Três Marias. – Isso era para furar o monopólio da light que a muito estrangulava nosso nascente desenvolvimento industrial.

 

O primeiro Natal em Brasília – 1956

 

O Coronel Ernesto Silva “ O SAPS instala o primeiro restaurante da nova capital. O Senhor Francisco Manoel Brandão com simplicidade e entusiasmo realiza o Natal e distribui para 561 candangos as lembranças que conseguiu amealhar. Não era de valor material de monta servia para aproximar as pessoas submetidas as maiores dificuldades. Estavam mau alojada em barracões rústicos e em barracas de lonas, fustigadas pelo vento e violenta chuvas que caiam no planalto naquela época.

 

O Dr. Edson Porto médico atendia num barracão os trabalhadores ligados e presidente do IAPI, o cearense Antonio Jucá, apressa a construção do Hospital HJKO.

 

O Departamento Nacional de Endemias Rurais sob a chefia do Dr.João Leão de Mona, trabalha diurnamente organizado um programação visando a pesquisa e profilaxia nas localidades existentes na área do DF.

 

Em fins de 1956, ninguém podia ser admitido em qualquer empresa sem que estivesse de posse de sua carteira de trabalho, após ter-se vacinado contra a varíola, e tifo e a febre amarela.

 

1957/1960

 

Os Cearenses não eram a maior colônia do distrito federal mas estavam em todos acampamentos nas cidades satélites, nas granjas e sobre tudo e principalmente responsáveis por todos acontecimentos de monta do Distrito Federal (isso no dizer do jornalista José Edmundo de Castro que por aqui andou e até hoje em sua residência em Fortaleza se delicia com as historias vividas em Brasília).

(*) José Colombo de Souza Filho, cearense de Fortaleza, jornalista, escritor, servidor público.

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