Apresentação
Antes, era a desolação do cerrado. Depois, a utopia de vultos históricos como o Marquês de Pombal, José Bonifácio e os inconfidentes mineiros e, tornando-a realidade, o projeto mudancista e profético do presidente Juscelino Kubitschek. A seguir, a miragem encoberta de pó vermelho dos redemoinhos da terra ferida pelas máquinas e, por fim, a imagem magnífica de curvas harmoniosas vestida de verde.
Eis a amada do gigante adormecido, que terá de trocar suas praias maravilhosas pela solidão do sertão inculto, onde se inspira o futuro do Brasil. É Brasília construída em três anos e meio por trabalhadores incansáveis que acorreram de todos os recantos do país e, dentre eles, os heroicos cearenses que nunca fugiram à luta e ao chamado da Pátria.
No livro Brasília, 50 Anos, editado em 2010, a Casa do Ceará deu nome a muitos operários anônimos que participaram da verdadeira epopeia da construção da Nova Capital, da interiorização do Brasil e da fixação dos rumos do desenvolvimento nacional.
Neste novo livro, continua a revelar nomes daqueles que continuaram na obra de consolidação da cidade, pois sua inauguração, em 1960, encerra apenas o ciclo do pontapé inicial. Na verdade, ainda continua a construção arquitetônica, urbanística e institucional de Brasília, paralelamente ao estabelecimento de uma civilização integradora do sentimento nacional.
Com a inauguração do aeroporto e das grandes rodovias Brasília-São Paulo, Rio-Brasília, Brasília-Fortaleza, Belém- Brasília, Brasília-Acre e muitas outras secundárias igualmente importantes, vai longe o tempo em que os pioneiros cearenses enfrentaram, amontoados em paus de arara, estradas vicinais que serpejavam os divisores de água, e atravessaram rios caudalosos a nado ou em barcaças precariíssimas, durante dias e mais dias de viagem, para chegarem à terra prometida.
O ciclo migratório ainda está longe de encerrar-se, visto que a capital federal continua sendo um ponto de atração de brasileiros de todos os estados, de todas as regiões, especialmente nordestinos e particularmente cearenses que sonham com melhores condições de vida, com mais fácil acesso à educação, à saúde, ao trabalho e à moradia. Gregário, sociável, animal político por excelência, na acepção aristotélica, o cearense chega aqui, como em qualquer outro lugar, trazendo consigo suas tradições gastronômicas, artísticas, poéticas, cívicas, suas datas festivas, o dia de São José, as noites de São João, sua religiosidade, sua música, seu talento, seu sotaque, seu repente, seu inconfundível bom humor, sua generosidade, sua hospitalidade, sua vocação para o trabalho construtivo, seu empreendedorismo, que são mantidos vivos nas feiras, nos lares, nos bares, nas praças, nos locais de trabalho, na Casa do Cantador, na Casa do Ceará e em muitos outros pontos de encontro.
É essa diversidade que emerge das biografias reunidas neste trabalho excelente e que revela o verdadeiro espírito da nação cearense.
Certamente esta obra não servirá apenas para dar notícias do que fizeram e do que fazem os cearenses de Brasília, mas será sobretudo fonte de inspiração da cearensidade dos que saem do solo amado, mas que não o esquecem nunca, que continuam fiéis à herança cultural de seus ancestrais.
Ao entregá-la ao público, reafirma-se que a Casa do Ceará é e continuará sendo a extensão e a presença do Ceará em Brasília.
Em nome desta venerável instituição, agradeço, pela qualidade do texto, a inestimável colaboração espontânea e voluntária de JB Serra e Gurgel, Wilson Ibiapina, Fernando César Mesquita, José Jezer de Oliveira, José Colombo de Souza Filho, Adirson Vasconcelos, Fernando Gurgel Filho, José Sampaio de Lacerda Júnior e Francisco Machado da Silva, além dos que optaram por subscrever suas biografias. Agradeço também a Hermínio Oliveira pelas fotos, ao empresário Ivens Dias Branco e ao grupo empresarial cearense que preside o patrocínio global deste projeto, assim como ao Ministério da Cultura que o aprovou de acordo com a Lei Rouanet.
Brasília, 15 de outubro de 2013.
50 anos de fundação da Casa do Ceará
Osmar Alves de Melo
Presidente da Casa do Ceará